30/09/2011

This is life

 Eu gosto do grave que sai das caixas de som abafadas na sala, elas trazem um pouco de esperança. Elas me fazem sentir o som oco dos meus batimentos cardíacos. Você sabe como são os momentos finais de uma vida, Violet? É tudo isto que eu estou passando agora. O som do bipe do meu lado, o odor, as dores físicas, os analgésicos. Eu me sinto péssimo. E acho que isso é um adeus. Eu amo você, não se esqueça. Me perdoe.

  Amassou o papel e os seus olhos se encheram de lágrimas. Ela sabia que aquilo não o traria de volta, mas ela releu mil vezes o mesmo bilhete, o mesmo papel, as mesmas palavras...e sentiu o cheiro. Dele. Ainda impregnado nas bordas. Correu até onde tinha jogado o papel e o enfiou no bolso. É só isso que resta dele e eu vou levar para sempre. Pensou, sacudiu a areia da calça jeans e correu para seu skate. Fones de ouvido. Proteção. Ou tortura? O som que saía era o deles. Coldplay - Yellow , estava escrito na tela. O coração reprimia o choro. O vento na cara parecia suor.
- CHEGA. - gritou, parou e jogou novamente o papel no chão. Pisou. E retirou os fones do ouvido. Escutando tudo ao redor. Os risos, os gritos. E viu a vida. Os olhos. A respiração ininterrupta que saía de si.
- Eu continuo viva. E você não. Richard. Eu o amo, amei e o amarei sempre, mas a vida ainda continua em mim e eu pretendo vivê-la e não viver morta. Dói da mesma maneira de quando você se foi. Dói da mesma maneira que a nossa briga. Você me dói. Me corta. Eu sinto tanto sua falta. Mas, como você diria "você sobrevive". É o que eu espero meu bem. É o que eu tentarei. - recolocou os fones de ouvido, subindo novamente no skate e seguiu rumo a sua casa. Sentia um certo alívio no peito.
 Sorriu.

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi, boa noite. Vim lhe fazer uma visita, desejar um ótimo domingo e chamar para participar da entrevista, pergunte: http://iasmincruz.blogspot.com/2011/09/perguntem.html

Márcia disse...

acho que foi a tati b que disse que o fim do amor é pior que o fim deles. e é.
quando acaba mesmo as palavras que um dia nao significaram nada, voltam, sem querer, antes de dormir. tudo que a gente quer é esquecer e deixar pra lá, seguir a vida.
muita gente diz que o tempo nao cura nada, mas cura. so se voce deixar.

Unknown disse...

Eu sinceramente ainda estou sem palavras depois de ler um texto como esse. Sabe aquela ideia de quando você lê um livro e não quer parar mais porque quer saber o que acontece depois e depois e depois? Confesso-lhe que é essa a sensação que tenho agora.
Você escreve muito bem e consciente. O mais importante de uma escrita não é sobre o que você vai falar e sim como você fala.

Um grande beijo e um ótimo final de semana. Estou a te seguir, se não se importa.

Lísia. disse...

A forma como ela se liberta e impulsiva e total. O fato de admitir a dor e lidar com ela e de viver sabendo que precisa viver pra si. Muito bom, adorei o texto.

Laís Pâmela disse...

Às vezes temos que dar adeus as coisas que amamos, porque elas já não nos fazem bem. Mas isso não significa que a amemos menos, talvez seja o contrário, amamos ainda mais, só não queremos sofrer e destruir esse sentimento que há dentro.
Adorei.
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Yellow, Coldplay? É linda, uma das minhas favoritas!
Beijo.