02/03/2011

Verdade ilícita - pt. 3

Para entender, leia antes a Parte 1 e Parte 2 .

 ... - falei calmamente, esperando ele digerir as palavras.
 - Prossiga. - falou friamente. Ajeitei o cabelo que tomava boa parte do meu rosto.
 - Bem, Filiphi e eu éramos noivos antes de eu morrer, mas ele fez a burrice de querer que eu voltasse. E aconteceu isso. Sou uma morta-viva, mas já fui fantasma...e viva até alguns minutos atrás. Eu não sei o que sou, mas eu poderia ser vampira. Acredita nisso? Bom, mas eu escolhi outra coisa. - sorri após falar. Não precisava respirar, mas a voz ficava cada vez mais rouca.
 - Qual a outra coisa? - ele ainda continuava frio.
 - Sonhos. Eu planto e colho sonhos. Os faço ser possíveis tanto enquanto dorme, como assim, na real. Eu os faço ser reais, mas eu destrui seus sonhos...cada um.
 - Por isso agora é uma zumbi, morta-viva... o que seja. Ele queria matar você, era isso? - perguntou, desviando os olhos.
 - Não. Ele não pode me matar literalmente. Porque se eu morrer, ele morre. Minha vida - abri e fechei aspas no ar - está nas mãos dele. Ele só quer que eu seja como ele. Destruidora de vidas.
 - Você destruiu a minha. - concluiu, ainda sem me olhar. Um fio gelado percorreu minha nuca. Lágrimas se aninhavam em sua bochecha visível. Eu queria poder chorar novamente, disse para mim mesma.
 - Eu sei. - percebi que tinha falado alto demais. - Me perdoa Júnior. - meu coração deu um pulo e parou bruscamente.
 - Acho que você não entende a gravidade de destruir. - flutuei para perto dele, enxugando suas lágrimas. Concentrei-me em seus olhos, eu vi a dor. Ele puxou minhas mãos e as colocou ao lado do meu corpo.
 - Você não entende Júnior. O seu sonho é impossível. Eu não posso ser o seu sonho. - encarei aquelas esmeraldas. Ele tocou em meu rosto, desenhando seu formato com o dedo indicador, só sentia um leve roçar, novamente eu queria poder chorar.
 - Você ainda está quente.
 - Tecnicamente estou morta só à dez minutos. - um sorriso triste preenche o rosto dele, só nele aquelas covinhas eram absurdamente lindas.
 - Eu amo você. Em cada partícula do meu ser, em cada célula eu tenho a certeza. Eu amo você. Elas tentam gritar, mas sua face já diz um não, sem nem perceber. Por quê?!
 - Não é culpa minha Júnior. Eu simplesmente não posso ficar com você.
 - Por que? Me diz. - ele diz incisivamente, formando outras lágrimas.
 - Eu não sou sua alma gêmea. Sua alma gêmea anda tão próxima de você. Você tem que olhar para os lados de vez em quando. - esboço um sorriso. Ele revira os olhos, enxugando o rosto e sorrindo pra mim. Retira sua mão do meu rosto e mexe no cabelo.
 - É isso? Por isso? - olho para ele e seu sorriso se torna maior. Meu coração começa a fluir sangue. Confusa, pergunto.
 - O que você acha que seria?
 - Sua bobinha. - ele segura meu ombro e me encara. - Isso quer dizer que você me ama. - Respiro aliviada por poder chorar. Lágrimas banham meu rosto. - A próposito, quem é minha alma gêmea?
 - A amiga da sua irmã, Evyline. - ele olha para mim com um misto de confusão no rosto, antes de rir freneticamente.
 - Não pode ser. Ela é lésbica. - ele diz em meio a gargalhadas.
 - Não importa o que ela seja, a alma dela é sua, isso não tem graça.


2 comentários:

Jéss disse...

Essa parte da história é além de emocionante, um pouco engraçado no fim.
Pude imaginar direitinho a cena em que o Júnior a chama de bobinha.
Lerei a próxima *-*

Rodrigo Santos disse...

isso me lembrou os quadrinhos do Sandman. Sobre colher e plantar sonhos... sobre ter o poder de saber as coisas.
Quero saber se essa tal Evyline é mesmo a alma gêmea dele *--*