09/01/2011

 E hoje fiquei tão só que doeu o peito. Percorri a casa, andando de lá para cá, procurando algo que eu sabia que não se encontrava ali.
 Vigiei a rua, olhei o cachorro do vizinho, mas continuei só. E o que eu queria não apareceu.
 - Procurando algo? - um desconhecido com olhos verdes me perguntou. Seu sorriso era doce e sua voz convidativa.
 - Não, só...observando. - disse, voltando a atenção para o livro que estava na mão.
 - Bom, não parece. - ele falou. Encolhi-me. Talvez eu não era uma boa atriz. Observei seu rosto mais uma vez. Ele me lembrava você.
 - Sim. Talvez. Mas ninguém pode ver. - respondi então e enrubesci na hora, vendo ele se sentar ao meu lado e examinar meu livro. Estava lendo Orgulho e Preconceito , bom, eu tentava ler.
 - Esse livro é um clássico. - ele observou, saltando seus olhos acima de mim.
 - É. - falei e recuei um pouco, com receio de ele me tocar.
 - Sabe, sou novo por aqui. Poderia me apresentar a vizinhança. - ele disse e o encarei. Que despeito. Acho que ele não conhecia nossa história.
 - Claro. - falei e sorri, fechei o livro. E o chamei para andar. Passamos por todas as ruas próximas e eu disse os nomes das pessoas que eu conhecia. Ele sempre cumprimentava. Até que cheguei em frente a sua casa. Estremeci e olhei de relance para ele, tentando ao máximo fazer passar despercebido. Em vão...
 - E aqui, quem mora? - perguntou, apontando seu dedo para a casa azul. A grama estava alta e o vidro rangia com o vento forte ao bater.
 - Ninguém. - respondi, querendo dizer Ele . 

 - Prazer em conhecê-la Louise. - ele apertou minha mão e beijou levemente minha testa. Fechei os olhos, sentindo o seu perfume. Uma lágrima escorreu em minha face. Virei o rosto.
 - O prazer foi meu Caio. - falei, dirigindo-me a casa. Apressei meus passos. Só. Sempre só. 
 Dei um salto brusco e soltei um gritinho. Caio estava do meu lado e olhava minha face molhada e os olhos lacrimejantes.
 - Você está bem? - ele perguntou. Vacilei e olhei para o lado tentando formular uma boa resposta, mas nada veio.
 - Eu estou só. - disse por fim. E dei um sorriso triste para ele. Ele se aproximou rapidamente e me abraçou. Eu senti novamente o seu cheiro.
 - Você nunca estará só. - ele sussurrou, e percebi que aquele Caio não existira. Nunca houve um Caio. Quando percebi, estava sentada, com meu livro em meu colo. E o sol a pino no céu. Olhei para o lado de sua casa e uma leve brisa tocou meu rosto. Sorri. É, nunca estarei só. Você sempre estará comigo, não importa onde esteja e como...

Um comentário:

Dreisse Drielle disse...

adorei o conto. *-* muito lindo mesmo.
Seu blog é super fofo também.
Bjos ;*