15/10/2010

Intenso

              Pensei em avisá-la, mas achei melhor que ela mesma descobrisse. Contar segredos não é pra mim, se foi confidenciado só pra mim, não posso contar, mesmo que eu esteja tentado a querer contar. Andréia joga o cabelo para trás em mais um riso frenético, eu a sigo, mesmo não querendo.
 - Você só pode tá brincando Jared. - ela ainda ri da piada tosca que eu havia contado. Seu riso era contagiante, quem desconfiaria que ela estava sendo ameaçada?
 - Então, posso deixá-la em casa hoje? - me ofereci, apesar de saber que ela não aceitaria. Éramos amigos, não tão próximos, mas eu me via obrigado a ajudá-la. Sabe como é, coisa de homem.
 - Hmmm, bom, se - ela destaca a palavra me encarando severamente - for só isso, tudo bem. Estou cansada mesmo.
 - Ok. Vou só falar com o Daniel. Me espere. - sai e fui de encontro ao cara que a ameaçava, meu melhor amigo. 
 - E aí cara, tudo bem? - ele pergunta, dando um soco em meu ombro.- O esquema tá feito com a garota, vou invadir a casa dela, soube que ela está só. Vai ser dá hora. Você não vai? - neguei com a cabeça. Ele era meu amigo, mas querer assustar Andréia me fez tremer de raiva. Já se imaginou assustando alguém para impressionar essa mesma pessoa? Nunca. Ninguém pensou isso, só o gênio do Daniel. Ele podia estar afim da garota, mas se era só isso, podia muito bem ir falar com ela.
 - Por que você não chega nela agora, em vez de ir assustá-la? - tentei uma última vez, uma ruga apareceu em sua testa, mostrando o quão contrariado era daquela minha proposta.
 - Eu vou tê-la, mas do meu jeito. - falou rispidamente pra mim. Sorri, tentando suavizar o clima, mas por dentro eu ardia. Olhei pra Andréia que me esperava e dei um sinal com a mão que já estava indo.
 - Isso não é assunto meu, então, até mais cara. - me despedi e fui para meu carro. Andréia já me esperava, me examinou com os olhos, me arrepiei. 
 - Você não parece bem. - concluiu. Ela deu um meio sorriso que eu não esperava. Me aproximei dela a abraçando, mas desta vez um abraço de verdade. Ela não recuou, retribuiu. - Você não está bem. - disse, e recostou sua cabeça em meu ombro. Se ela corresse perigo, eu deveria contá-la o segredo? Mas ela não corria, seria só um susto, e se eu contasse perderia uma amizade de dez anos, apesar de Daniel está muito diferente ultimamente, ele andara com uma turma nova, enquanto eu viajava.
 - Não. Você...está sozinha em casa? - perguntei. E ela me empurrou, com seus olhos arregalados. Eu sabia que seria mal interpretado. - Não é isso. É que, é que ... - não tive como terminar, não sabia como terminar a frase.
 - Sim, mas não conte a ninguém. - ela respondeu e abriu a porta do carro entrando. Eu sorri ali, parado. Eu não a conhecia tão bem, ela me surpreendia.

 - Posso dormir aqui na sua casa? - perguntei, quando chegamos. Ela me deu um tapa e ao mesmo tempo riu. Vendo que eu não falei nada, ela ficou séria. Me encarou e mexeu no cabelo. Senti um frio na barriga.
 - Qual o motivo? - Que bom motivo eu teria? Além de Daniel vim arrombar a casa dela, fingir assaltá-la, querer estrupá-la e no final tcharaam, é tudo uma brincadeira e ele só está "apaixonado" por ela. Pensei em outros motivos.
 - Briguei com meus pais, não queria passar a noite lá. - falei e baixei os olhos, a modo de ser convicto. Ela não se moveu, ficou parada.
 - Tudo bem, mas sem gracinhas. - sorri e estacionei o carro na entrada da garagem da casa dela. Entrei com ela, e senti um impulso de tocá-la, me repreendi, estava ali para "protegê-la".

 - O que você está fazendo aqui? - indagou Daniel, furioso, não podia ver seus olhos, a madrugada estava escura.
 - O impedindo dessa loucura. Você nunca foi assim. - ele balançou a cabeça e pegou meu braço.
 - Eu a quero. - disse, e eu senti o desejo dele fluir em meu corpo. Eu também a queria, não podia negar, depois da tarde que passamos juntos. Mas ele devia se controlar.
 - Não desse modo. Ela não vai querê-lo desse jeito. - Tentei convecê-lo, conversamos por vários minutos. O abracei como meu melhor amigo. Ele chorou me dizendo que queria ser aceito pela nova turma. Queria ser descolado. O consolei novamente, aquele sim, era meu melhor amigo. Ele disse que só era algo físico por Andréia e que ela foi a escolhida entre todas. Falamos de tudo, e os minutos se passavam rapidamente. Vi o sol despontar no céu e uma mão pousar em minha cintura. Andréia.
 - Oi? - ela disse para Daniel. Ele ficou paralisado, olhava para a mão dela em minha cintura. Sorriu e respondeu-a. Ela nos deixou sozinhos de novo e ele não me deixou respirar.
 - Eu vi cara. O jeito que ela te tocou, o jeito que você olhou pra ela. Até seus olhos mudaram. - ele riu. Eu estaria me apaixonando? Ri com ele.
 - Talvez eu esteja mesmo me apaixonando, mas e aí? - ele levantou as duas mãos em desculpa e me abraçou novamente.
 - Obrigada por ser meu melhor amigo e por me escutar. Agora tenho que ir e...me desculpa. - falei que ele esquecesse, que nossa amizade era maior que tudo isso. Ele me desejou sorte.
                 Fui a procura de Andréia pela casa. Ela estava na cozinha, de pijama. Sorriu pra mim, e uma onda de calor tomou meu corpo. 
 - Está livre hoje? - perguntei. Eu vi ela corar e desviar o olhar. Ela sentia o mesmo? Meu coração batia forte.
 - Sim. Por quê? 
 - Hum. Que tal nós sairmos e dessa vez nos conhecermos de verdade? - perguntei. Ela apenas sorriu e afirmou com um balanço de cabeça. Um dia eu contaria aquele (não)meu segredo a ela, mas só quando fosse permitido, porque agora o que importava era apenas o seu sorriso.



Nota: 9,16

2 comentários:

DÉYA... disse...

gostei.. to seguindo...
http://andreyawilsimar.blogspot.com/

Elania disse...

Muito obg querida (: