11/12/2011

De alguma maneira, eu permaneço.

 Sempre falam que quando a gente cresce, a gente se ajeita. Eu ainda continuo esperando isso, fiz 22 recentemente, como bem sabe Rodrigo, mas às vezes eu me pergunto onde que o tempo ficou, porque eu não cheguei a vê-lo passar. E meu irmão deitado ao meu lado, segurando em meu ombro, me apoiando de alguma maneira nessa jornada, só me faz crer mais ainda que eu não me ajeitei.
 Eu olho para os ombros do Manoel dirigindo, estão rígidos, eu queria poder contornar seu pescoço e sussurrar em seu ouvido "eu estou bem", mas não posso, não agora enquanto malas estão no banco da frente e um punhado de cheques sem fundos no chão do carro. Me vejo balançando a cabeça de vezemquando e meu irmão abre os olhos verdes me encarando. Eu nem deveria te dar explicação alguma por tudo isso. Mas eu te amo Rodrigo, assim como amo a sensação que o chocolate faz em minha boca, ou como amo ver meu irmão sorrindo, ou da mesma maneira que me sinto quando Manoel me abraça apertado, ou quando eu vejo minha filhinha feliz com sua família adotiva. E me pergunto que é que eu fiz da vida pra merecer tanta coisa no peito.
 Mas de verdade, a vida não tem jeito, apronta com todo mundo e não esqueceu de mim. Meus pais não prestam, minha família simplesmente me ignora, tanto eu, como o Marquinhos, e Manoel, ah Manoel, com seus trinta e oito anos me resgatou desde pequena, me cuidando, me mantendo, mas eu nunca vou entender porque mudamos tanto de cidade, e eu nunca vou entender porque só você me marcou dessa maneira.
 Eu não sou de toda triste querido, eu já vivi e vi bastante, sofri, me mantive trancafiada por dentro, mas hoje eu sorrio, sabe por quê?
 Porquê a gente sempre arruma um tempo para ser feliz. E é por isso que te escrevo, te deixando um pedacinho de mim e prosseguindo, cuida bem da minha guria linda, e faça bom uso do termo pai. Você merece, ame sua família, sua vida, mas não esqueça, eu amo você.
 Acho que a viagem finalmente está acabando e quando eu chegar na cidade irei direto para os correios te enviar isso, mas caso Lívia veja primeiro e esteja lendo isso antes de você, eu peço que me desculpe e obrigada.
 Te vejo depois, quem sabe.

4 comentários:

Daniela Filipini disse...

Crescer machuca, dói, e é inevitável...

Renata disse...

Acho que no final a gente nunca se ajeita completamente porque nós nunca estamos 100% satisfeitos.

Que nem diz a música do Billy Joel, Vienna (que eu adoro): only fools are satisfied.
Bonita carta, alias.

Rodrigo Santos disse...

Fiquei imaginando aqui. Malas, cheques sem fundos, pais que não prestam, mudança de cidade... parece uma vida desregrada em estilo cinematográfico! Adorei!
Não são palavras jogadas informando a cena. São palavras que precisam ser completadas com o imaginário. É disso que eu gosto *-*
E tem meu nome no meio! pra que melhor?! haha'

Beijão, Elania.. e mais uma vez, obrigado pelos comentários no meu blog. Fico feliz com eles!

Fran Carneiro disse...

Mudanças e acontecimentos, leves ou pesados, sempre marcam.

Texto bonito!