17/11/2010

Passado é história [PARTE IX]

 Para entender, leia antes I , II ... e VIII .

 Que droga. - gritei. Estava no meu quarto. Uma luz tremeluzia ao lado esquerdo da cama. Era o despertador. E piscava irritantemente 03:18 . Madrugada.
 Lembrei de Roger...Jessily...Rafael... e chorei baixinho, imaginando como tudo aquilo se resolveria. Stefferson...

2 anos depois...
- Ah, qual é. Você tem que ter algum hobby. - disse a Rafael, meu pai.
 Ano passado, meio que, tudo se resolveu. Fizemos exames, brigamos, nos reconciliamos. Até que ele contou a história. A minha história.
-Sua mãe fugiu com você, você só tinha 5 meses de vida. Eu tentei achá-las, mas nunca consegui. Até que um dia, alguém me ligou avisando-me de que ela havia morrido, perguntei sobre você, mas só me informaram que ela não estava com nenhuma criança. Procurei por tantos orfanatos... -foi o que ele disse e vi a verdade naquele exato momento. Eu não deveria culpá-lo. Ele chorou tanto, e eu também.
 Família agora que sei o que é, posso dizer : Eu tenho.
- Não tenho. Não tive muito tempo para criar hobbys. - ele falou e engoli  em seco, olhando para seus dedos enrugados.
- Eu amo você pai. - falei e o abracei. Seu sorriso iluminou-o. Há algum tempo eu não tinha nenhum pai, hoje eu tenho dois.
- Pode ir soltando minha filha. - falou Lívia, brincando. Eu ri e a puxei também, dando-lhe um abraço. Com Lívia foi diferente. Aos poucos conquistei-a e a fiz se tornar mais sincera.
- Eu tenho medo Alexia, de me apegar e perder você. É muita dor. Eu não iria suportar. - me lembro como se fosse hoje, ela me dizendo isso. Sorri com a lembrança. Hoje eu tinha uma mãe de corpo e alma.
- Tá. Agora. Preciso ir pra faculdade. Bom almoço pra vocês. - falei, despedindo e saindo do abraço grupal.
 Peguei minha mochila no sofá e as chaves do carro. Fechei a porta e me dirigi ao carro, já correndo para a faculdade.
 Medicina não era fácil, mas eu amava. Corri meus dedos sobre o volante e suspirei. Mais um dia.
 Eu contava os dias desde a última vez que vira Roger. Em um hospital, por minha culpa. Era dessa maneira que eu me lembrava dele. E dóia.

4 anos depois...
 Nunca mais vi ou ouvi falar de Roger. E olhando-me no espelho com um vestido de noiva, tomara-que-caia, branco e com um tipo de saia balonê que ia até o meio da minha coxa, luvas que vinham até o cotovelo, um véu azul, a mesma cor do salto agulha... eu queria que Roger estivesse aqui para compartilhar isso comigo.
 Meu primeiro paciente. Primeira cirurgia. Até de coisas tão íntimas... eu queria que ele estivesse aqui para poder contá-lo por tudo que passei. E agora...meu casamento.
 É um hotel em frente ao mar. Vou entrar com meus pais. Estou feliz, como nunca antes. Stefferson vai estar me esperando, com seus lindos cachos grandes, e um sorriso nos lábios. E quando chegar a hora eu vou dizer sim. Sim. Sim. Sim.
- Pronta? - pergunta Lívia, interrompendo meu transe.
- É claro. - respondo e sorrio. É o meu dia...

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